Safra 22/23 no setor sucroenergético: entenda os desafios do novo ciclo

por | abr 6, 2022 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

Conflito militar entre Rússia e Ucrânia irá elevar custo de produção e aumenta temor de desabastecimento do setor sucroenergético

** Data da publicação 08/04/2022

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Após uma temporada bastante remuneradora para toda a cadeia produtiva, o setor sucroenergético inicia a safra 2022/2023 com enormes desafios no meio político e também no segmento agrícola.

Do ponto de vista agronômico, os canaviais vão sofrer os impactos do legado da safra passada, entre eles a seca, geadas e queimadas. As geadas provocaram a colheita antecipada de algumas lavouras, ocasionando um desequilíbrio no planejamento das usinas. Os incêndios, por sua vez, resultaram em falhas de brotação nos canaviais.

Dessa maneira, muitas áreas iniciam a safra 2022/2023 com atraso no desenvolvimento fisiológico, falhas de brotação, aumento da infestação de plantas daninhas e também de algumas pragas, como broca e cigarrinha.

Devido a esses fatores, a moagem na região Centro-Sul deve atingir a marca de 554 milhões e toneladas, volume ligeiramente superior ao ciclo 2021/2022, porém, abaixo dos patamares alcançados na safra 2020/2021.

Por fim, no que tange ao aspecto político, o conflito militar entre Rússia e Ucrânia eleva a preocupação com o risco de desabastecimento, afinal, mais de 23% dos fertilizantes importantes pelo Brasil são fabricados pela Rússia. Somado a isso, existem também o temor com a aprovação da PEC dos Combustíveis, que pressionaria a cotações do etanol no mercado interno.

Veja abaixo os principais destaques do episódio 35 do podcast Fala, Agro!, com o pesquisador do PECEGE (Instituto de Pesquisa e Educação Continuada em Economia e Gestão), João Rosa (Botão).

Quais os impactos do conflito militar entre Rússia e Ucrânia no setor sucroenergético?

O conflito militar entre Rússia e Ucrânia tem provocado diversas repercussões sociais e econômicas, com reflexos em todo o mundo. Para o setor sucroenergético, a principal consequência está no fornecimento de insumos, afinal, cerca de 30% do volume de fertilizantes importado pelo Brasil tem origem na Rússia e Belarus, países que têm sofrido fortes sanções econômicas.

De acordo com o pesquisador do PECEGE, esse fator trará um impacto direto no custo de produção da atividade. “Na safra passada, o custo para a formação do canavial era de, aproximadamente, 13 mil reais por hectare, já para essa safra as primeiras estimativas são de 16 mil reais. Com relação aos tratos culturais, na safra passada o custo para tratamento de soqueira era de 3,5 mil reais, neste ciclo esse valor saltou para 4,5 reais ou até 5 mil reais. Ou seja, os reflexos do conflito já são percebidos tanto no preço como na disponibilidade dos produtos”.

Perspectivas para o mix da safra

A moagem de cana na região Centro-Sul na safra 2022/2023 está estimada em 568 milhões de toneladas, alta de 6% em comparação com o ciclo passado. Os dados são do relatório divulgado pela CONAB, a Companhia Nacional de Abastecimento.

“A produção dessa safra não irá alcançar o patamar das 600 milhões de toneladas, devido aos impactos climáticos do ano passado, como seca, geada e queimadas. Porém, para a safra 2023/2024, esse número deve voltar a crescer, pois, observamos um aumento do plantio da área”, ressalta o pesquisador do PECEGE.

As consultorias estimam um aumento no direcionamento de cana para a fabricação dos biocombustíveis, ou seja, o mix alcooleiro deve ser de 55% e o açucareiro de 45%. Diante dessas projeções, a produção de açúcar deve atingir a marca de 34,2 milhões de toneladas e a fabricação de etanol está estimada em 25,8 bilhões de litros na safra 2022/2023.

“Nós prevíamos uma safra mais alcooleira, devido ao aumento nos preços do etanol. Porém, um ponto de atenção é a PEC dos Combustíveis que, se aprovada, irá pressionar as cotações no mercado interno. Em anos anteriores, observamos o quão prejudicial foi a interferência do governo à cadeia produtiva do setor alcooleiro”, pondera Rosa.

Veja os números da safra 22/23

1. Moagem de cana na região Centro-Sul está estimada em 568 milhões de toneladas;

2. Produção de açúcar: 34,2 milhões de toneladas;

3. Produção de etanol: 25,8 bilhões de litros;

4. Mix da safra: 55% alcooleiro e 45% açucareiro.

Tendencias de preço e margem para o setor sucroenergético

De acordo com a análise do PECEGE, a produção de quilos de ATR (açúcar total recuperável) por hectare não deve sofrer grandes variações ao longo dessa safra. Entretanto, os preços não devem registrar ganhos expressivos como os observados na safra passada.

“Estávamos no patamar de R$0,77 por quilo de ATR na safra 2020/2021, saltamos para o patamar de R$1,20 para a safra 2021/2022 e para esse novo ciclo a perspectiva é que o preço se mantenha estável, porém, sem grandes aumentos. Ou seja, os preços irão se manter, mas os custos irão subir e isso deixará as margens um pouco mais apertadas”, relata João.

Para finalizar, João faz um alerta para as oportunidades de negociação no mercado spot, que, segundo ele, tem alcançado patamares de preços jamais vistos. “Temos observado em algumas regiões como Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba e Assis o mercado bastante aquecido. Nessas regiões, temos visto negociações na modalidade spot entre 150 a 200 reais”, relata o pesquisador.